segunda-feira, 27 de abril de 2009

É um início... Haveremos de chegar lá, caramba!

Fim de touradas ameaça negócio de 10 milhões
por PAULO JULIÃO, 25 Abril 2009

Viana tornou-se a primeira cidade contra este espectáculo, mas outras seguem-lhe as pisadas. Criadores temem a perda de receitas e de empregos. Cavaleiros manifestam-se hoje no Norte.

Os criadores de touros de lide portugueses estão apreensivos com a recente "onda" antitouradas registada em vários municípios do País e temem pela perda de centenas de empregos, lembrando que, anualmente, só na criação, o negócio envolve mais de dez milhões de euros.

"Em Portugal há uma centena de ganadarias que no total criam todos os anos cerca de 3000 touros, o suficiente para as nossas necessidades. A uma média de 3500 euros cada touro, está fácil de ver o que está em causa", explicou ao DN João Santos Andrade, presidente da Associação de Criadores de Toiros de Lide.

Segundo números da própria instituição, só as ganadarias portuguesas empregam directamente mais de um milhar de trabalhadores, entre tractoristas, campinos e outras profissões, num negócio anual de dez milhões de euros.

"É uma actividade económica que movimenta muito dinheiro, inclusivamente impostos. Sem espectáculos tauromáquicos, não há trabalho e a actividade deixa de existir", apontou. Da actual produção anual de touros em Portugal, cerca de 2400 são destinados aos espectáculos no País e os restantes seguem para Espanha (20% do total) e França.

Para além dos criadores, o negócio tauromáquico em Portugal, bandarilheiros, tratadores, cavaleiros, moços de espada, moços de arena, "estamos a falar de largos milhares de pessoas que trabalham nestas lides", esclarece João Santos Andrade, sendo que só em termos de ganadarias, existe produção desde o Mondego até ao Algarve e Açores.

Segundo dados da associação, em 2008 registaram-se 250 espectáculos tauromáquicos em Portugal, alguns envolvendo assistências na ordem das 2000 a 3000 pessoas, entre corridas de touros, festivais, novilhadas, vacadas, grupos cómicos, largadas de touros e picarias.

Espectáculos que nos últimos meses começaram a ser postos em causa em várias localidades do País, desde Viana do Castelo - que se declarou a primeira cidade antitouradas - passando por Cascais, Braga e Póvoa de Varzim (ver texto em baixo).

"No último século sempre vimos pessoas contra e a favor das touradas. Mas ultimamente, a oposição a estes espectáculos tem sido mais visível, isso é um facto", reconhece João Santos.

Mais de 70 cavaleiros são esperados hoje numa marcha pacífica pelas ruas da cidade de Viana do Castelo, que culminará com a concentração frente à câmara em protesto contra a decisão desta autarquia de tornar o município "antitouradas", explicou um dos promotores.

"Será uma forma de mostrar o nosso descontentamento para com a câmara municipal, por proibir as corridas de touros no concelho. Estamos a movimentar-nos para que isso não aconteça nos próximos anos", explicou Carlos Durães, da organização.

Recorde-se que através de uma resolução tomada pelo executivo camarário a 27 de Fevereiro deste ano, Viana do Castelo tornou-se na primeira "Cidade antitouradas", com a autarquia a defender que o perfil de "município saudável" é "incompatível com este atentado aos direitos dos animais". Já que "na realização de espectáculos tauromáquicos se provoca tortura e sofrimento injustificado", declarou Defensor Moura (PS), presidente da câmara.

Uma decisão que vem na sequência da compra, pelo município, da Praça de Touros para receber um espaço científico.

Por seu turno, a associação "Animal" entregou esta semana ao presidente da Câmara de Viana do Castelo um prémio para saudar a decisão da autarquia.

"Naquele espaço, a designar de Praça da Vida, vai ser construído um Centro de Ciência Viva, onde os jovens das nossas escolas vão estudar a vida e os animais", explica o presidente da autarquia.

A Praça de Touros vai dar origem à Praça da Vida", diz Defensor Moura. "É uma iniciativa histórica, uma grande decisão, mas uma gota de água no oceano da tauromaquia. De qualquer forma acreditamos que é uma questão de tempo até que esta indústria caia por completo", afirmou Rita Silva, da Associação Animal.

"Acreditamos que em 2009 outras autarquias sigam este exemplo", continua o presidente da câmara Defensor Moura. Ainda na quarta-feira a capital da Venezuela, Caracas, declarou-se antitouradas, "por isso estamos no bom caminho", concluiu.

DN

8 comentários:

rien à signaler disse...

Não foi a "Cidade de Viana" que se tornou contra os espectáculos tauromáquicos, foi a pessoa do "Presidente da Câmara da Cidade de Viana".

Ainda bem que o presidente da Câmara de Lisboa gosta de futebol, senão ainda declarava Lisboa como cidade "anti-futebol" e fechava os estádios...

Um presidente de câmara não tem legitimidade para tomar uma decisão destas em nome de uma cidade inteira.

Baboseiro disse...

Compreendo que no futebol há por vezes elementos da família bovina que merecem ser torturados, mas comparar futebol com touradas dá-me a sensação que estamos a ler o mapa ao contrário, não?

Quanto à legitimidade do Presidente da Câmara de VC, isso ele tem, pois foi eleito democraticamente pela maioria da população. Poderá não ter é dividendos políticos, mas isso ver-se-á já este ano nas eleições autárquicas. Coragem também lhe falta, diga-se.

Louvo e admiro a sua decisão.

rien à signaler disse...

Não é comparar futebol com corridas, é uma questão de principio. Quer se queira quer não, as corridas de toiros são um espectáculo legal. Compreendo que seja um assunto polémico, mas é uma actividade legal no nosso país.

Ou seja, um Presidente de Câmara não tem legitimidade de a proibir só porque "é contra". Que se mude (ou tente mudar) a lei nacional, então...

Se as corridas em VC tinham assistência, então é porque há contribuintes do concelho que são a favor deste espectáculo, e não devem ser privados disto.

Vejamos, eu tenho uma posição anti-aborto, por exº, outro assunto cujas posições são mais de carácter pessoal do que político. Se eu fosse Presidente de Câmara não iria proibir esta actividade nos hospitais do meu concelho só porque EU acho que tal se trata de um crime. A lei permite, então que assim seja...

Baboseiro disse...

Compreendo o que dizes, mas novamente acho que comparas coisas incomparáveis. Saúde está longe de ser um espectáculo "cultural"...

Legal não significa que seja obrigatório. Pegando no teu (incorrecto) exemplo, um médico não é obrigado a fazer uma IVG caso declare objecção de consciência. É uma questão de escolha.

rien à signaler disse...

OK, não concordo mas então outro exemplo: Sou Presidente de Câmara e acho que a pesca desportiva é uma actividade bárbara (Elias!) e tal... A partir de hoje proíbo a pesca no meu concelho. Achas legítimo?

Baboseiro disse...

A pesca desportiva não é considerada uma actividade cultural e não recebe subsídios do Estado e das Autarquias.

O que aconteceu em VC é que o município comprou a Praça de Touros e decidiu deixar de promover espectáculos tauromáquicos neste espaço. Por ser proprietária do recinto, tem direito e legitimidade para tal. Isto não invalida que a nível particular estes eventos deixem de se realizar em VC, dado ser uma actividade legal.

Babosices, o blog onde as grandes questões são debatidas. E onde se oferecem cupões de desconto para o peep show.

rien à signaler disse...

Deixa ver se percebi: A pesca desportiva não é considerada uma actividade cultural, mas as corridas são, pelo que já faz sentido proibi-las...

Meu, eu sei como se processou a coisa em VC. Claro que correu tudo sobre a legalidade: a CM comprou a Praça, e vá de transformar aquilo num Pavilhão Multiusos. Onde eu quero chegar é que acho um abuso de poder um Pres. Câmara tomar uma decisão destas só porque não gosta de corridas, quando é um facto que há muita gente em VC que as ia ver.

Pode ser que se f__a nas próximas eleições...

Quero o meu cupão!

Baboseiro disse...

Para mim não faz o mínimo sentido considerar uma tourada uma actividade cultural, e receber subsídios como tal.

Ninguém proibiu nada, simplesmente deixarão de haver touradas na Praça de Touros de VC, e esta passará a ser um local de ensino e lazer para crianças, utilização bem mais nobre que a anterior.