quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Há olhares que são imortais


O mestre faria hoje 110 anos se fosse vivo. Ainda há pouco tempo lembrei-me dele quando estive em Porto Covo e nadei até à Ilha do Pessegueiro e vi-me sozinho naquele pedaço de terra rodeado de gavoitas por todo o lado, algumas bem zangadas comigo por lhes estar a importunar a soberania local. Comecei a reviver o filme The Birds e às tantas tive que me pirar dali para fora antes que ficasse como o Camões. É neste pormenor da criação do medo que Hitchcock é exímio: planta sub-repticiamente a semente dentro de nós, deixa o tempo servir de rega e, quando menos esperamos, lá temos uma urtiga a causar-nos comichão à mente - mas esta, ao contrário da outra, não irrita. Ter a capacidade de marcar intemporalmente as pessoas só está ao alcance dos melhores. Obrigado pela cicatriz, Alfred.

Sem comentários: